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Uma leitura sobre impulsos de diversas grandezas que nos habitam
24/08/2018

Nota Preliminar:

Esse texto requer uma leitura mais poética, uma vez que traz uma linguagem dos temas dos antigos textos das mitologias. Uma leitura sem levar as expressões e sentidos “ao pé da letra” deverá possibilitar algumas conexões importantes com os conhecimentos mitológicos, esses os quais tinham grande importância enquanto ciência e religião para nossos ancestrais.

 

Esse é um dia especial, mas também, o dia que precede e acompanha o dia a dia. Pode ser um dia que eu nunca vivi, pode ser o mais comum dos dias. Mas qual foi o dia em que começou a contagem dos dias? Qual foi o primeiro dia? 

O primeiro dia é aquele que se deu nos primórdios do tempo, quando se apresentou uma força criadora da natureza que inaugurou a terra. Foi esse dia uma conquista que marcou o início do tempo. Semelhante à um forte impulso, isto emergiu do nada e foi indo fluidamente até alcançar seu posto, e ali, dando-nos a terra firme com tudo o que há dentro dela, essa força se pôs a testemunhar o espaço que proveu. Sendo o tempo a sua permanente presença.  

Em virtude desta força conquistadora do nosso chão, se fez o local para vivermos, nós podemos imitar essa força quando miramos e partimos para alcançar objetivos. Mas não somos iguais a ela. Nossas conquistas e realizações exigem um empreendimento de foco, esforços, sacrifícios, superação de obstáculos, eterna labuta e etc... Os dispendiosos esforços da humanidade em construir os grandes legados que perduram no tempo, acabam sendo devorados pelo tempo. Mas, para essa força, que pulsa naturalmente, seu legado não se apaga, pois, essa força é imortal, portanto não perece ao tempo, pois é ela mesma, o próprio tempo.

Diferente de nós, que somos vulneráveis às dificuldades e condições do entorno, essa grandeza referida, é de outra alçada, de alcance ilimitado. Não visualizamos o seu limite, até mesmo por que isto não busca se superar ao máximo, seu alcance pode ser pouco ou muito, pode ser apenas o suficiente...

Imagino tal presença como um totem de energia vulcânica. Que conduz as coisas para cima em firme assentamento, trazendo o chão do fundo do oceano para inaugurar a terra. Essa força de imanência, estava presente lá na criação, quando se emergiram as montanhas do oceano primordial.  Essa força está na imagem da primeira montanha da terra, a colina primordial que permanece em zelosa estabilidade, testemunhando tudo aquilo que se está estabelecido.

Essa força primordial, que aqui nos referimos, se baseia em uma figura da antiga mitologia e religião egípcia, esta escultura à esquerda é uma estátua de Tatenen, a entidade que representa a colina primordial, a primeira terra formada do nada, a primeira conquista dos deuses. Tatenen dizia: “Eu sou o antigo, que está no limite da eternidade”, ou, “sou aquele que já existia nos primórdios dos tempos”. Para os egípcios antigos, Nun, um outro deus da mitologia, era o oceano primordial, que de modo imprevisto, percebeu que se animava dentro dele uma nova vida, que era Tatenen, uma potência que veio à tona sob a forma de colina. Segundo os antigos, existiam uma grande variedade de deuses, e uma vez que surgiu a terra, também surgiu um espaço em que todos poderiam ter acesso. Sendo assim, a conquista de Tatenen, de emergir de Nun, criou um espaço para todos estarem, sejam esses mortais ou imortais.

Vimos segundo as tradições da mitologia como que Tatenen apareceu na natureza, mas como este aparece em nossas vidas? Teríamos dentro de nós impulsos semelhantes ao que fez emergir a primeira colina. Será que de alguma forma temos a força, ou a estabilidade de uma colina? Ainda que o tivermos, seria apenas uma parcela disso, pois temos muitas outras coisas em nós, dentre essas, as expectativas. Expectativas raramente são correspondidas e vivem estreita relação com as frustrações. Podem ocorrer imprevistos ou resistências. Muitos são os fatores que nos afetam.  

A ciência moderna tende a moderar as leis da natureza, explicando suas verdadeiras causas e funcionamentos, além de sistematizar métodos para a obtenção de maior sucesso e eficácia na realização de determinadas tarefas e resultados. Mas quem sabe não nos habitam forças sobrenaturais, que nem sempre seguem leis preditas de moderação. Imaginemos um planeta que se implodiu em decorrência de uma montanha que ao invés de se projetar sobre a terra o arrastou totalmente para suas profundezas. Ou outro, de um planeta que nunca se estabiliza, em decorrência de uma montanha cresce desenfreadamente se projetando para a superfície, mas sem jamais encerrar seu crescimento. Podemos imaginar assim o quão destrutivo e infértil pode ser a quando esse impulso age vorazmente. Do contrário, quando se estabelece o novo terreno temos espaço e possibilidades para as coisas se assentarem e seguirem curso.

Falamos aqui de um impulso relacionado com uma história da mitologia. Contudo existe uma grande diversidade de seres e histórias, bem como diversas mitologias. Podemos constatar que uma diversidade de coisas pode ser relacionada com impulsos, e que um mesmo impulso pode nos afetar de diferentes formas. Um impulso que em um momento serviu para nos orientar, pode mudar e apenas a nos acompanhar, e, em outro momento o mesmo impulso pode passar a nos desorientar. Mas felizmente nós podemos ser afetados por muitos outros impulsos, pois não somos a priori prisioneiros, ou propriedade exclusiva de um único impulso.

Quando somos afetados por algo que nos marca, nem por isso precisamos seguir carregando as manifestações dos imortais como se fossem nossos fardos. É saudável nos prevenirmos para não nos identificarmos com um desses estilos e questões, que por serem imortais, nunca passarão. Podemos experimentá-los, conhece-los, mas depois soltá-los, deixando-os para assim seguirmos adiante. Uma advertência que regia esses povos antigos era a de não tomar para si a potência de um deus, mas sim de ter altar para todos eles, pois todos queriam ser reconhecidos e reverenciados. Uma recomendação que os antigos usavam para se praticar e preservar a honra e o belo na vida do mortal, era de se conhecer a justa medida. Tal medida seria um meio termo, de ouvir aos deuses, mas se preservando dos excessos. O belo, como sendo um conceito do ser humano não se dissolver por completo, e sim poder expressar os impulsos que o atravessam com um filtro, não sendo tomado em possessão, mas sim em exercício de uma moderação, chamada de “a justa medida”.

Se não nos deixarmos dominar pela influência desses impulsos, se moderarmos nossas ações, já que esses impulsos geralmente não aparecem prontos para o uso, mas se apresentam de forma crua e em estado bruto. Logo necessitando do nosso aprendizado sobre esses, para assim podermos saber fazer a tal moderação. Não é toa que os impulsos eram cultuados e debatidos a fim de promover a maior apropriação e conhecimentos dos humanos sobre os deuses. Os impulsos expressados com a justa medida restauravam uma conduta ética, tal prática regulava a vida das interações sociais, a justiça divina e a saúde mental. Quem fornece qual é a medida ajustada é sempre o momento presente, a situação em que estamos inseridos. É ali, no presente, que testaremos o nosso aprendizado desenvolvido.

É ali que seremos testados em nossas expressões desses impulsos. Cabe a nós moderarmos nossas ações, nem para mais do que nos cabe, nem para menos do reconhecemos nesses impulsos. Para assim podermos ser atravessados por essas forças da natureza sem perdermos nossa honra, não perdendo a justa medida, a medida adequada aos mortais.

Publicado por
Augusto Faria Roos - CRP 06/94283 - Psicoterapeuta Abordagem Analítica
Psicologia Clínica Psicologia da Saúde Supervisão Clínica

Psicoterapeuta Junguiano - Atendimento de Jovens e Adultos - Abordagem Teórica Psicologia Arquetípica .

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